Nos dias de hoje fala-se em um ensino diferenciado, que
possa ser significativo tanto para os professores, quanto para os alunos. Em
Matemática, mais precisamente em Geometria, a maioria dos professores tem
dificuldades em educar com essa nova prática e, tratando-se da Educação de
Jovens e Adultos (EJA), é necessário que o professor seja capacitado para
trabalhar com essa modalidade de ensino, levando em conta também a vivência
desses alunos.
Segundo Nilton Luís Novaki, professor de matemática
da rede pública do Estado do Paraná, a Geometria é um ramo
importante da Matemática como objeto de estudo e instrumento para outras áreas.
Ela oferece ótimos exemplos de aplicabilidade na vida cotidiana dos nossos
alunos, tanto do regular como da EJA que trazem seus saberes e experiências de
vida para sala de aula.
A
Geometria é uma parte da Matemática que se divide em Geometria Plana, onde são
apresentadas figuras planas como quadrado, retângulo, triângulo, etc.,
Geometria Analítica onde se estuda o comportamento de curvas, através da
análise de equações, como reta, ponto e circunferência, e por fim, a Geometria
Espacial, onde então conhecemos as figuras geométricas no espaço tais como, poliedros
(paralelepípedos, pirâmides, cubos) e corpos redondos (esfera, cone, cilindro).
Apesar de todas as subdivisões que a Geometria possa ter e nomes que muitas
vezes assustam a maioria dos alunos, essa área possibilita a utilização de
muitas práticas pedagógicas diferenciadas. Existem inúmeros materiais concretos
e softwares que podem contribuir para esse ensino, no entanto, é preciso que
haja o interesse por parte dos professores em buscar essa alternativa. Podemos considerar
ainda, juntamente a essas práticas, a interdisciplinaridade e a vivência dos
educandos.
"Se as pessoas aprendem com suas atividades sociais e profissionais, se a escola
e a universidade perdem progressivamente o monopólio da criação e transmissão
do conhecimento, os sistemas públicos de educação podem ao menos tomar para si
a nova missão de orientar os percursos individuais no saber e de contribuir
para o reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes às pessoas, aí incluídos
os saberes não-acadêmicos" (Lévy, 1999).
Em se tratando de Educação
de Jovens e Adultos é preciso considerar que esses alunos são em sua maioria,
trabalhadores, pais e/ou mães de família, que não tiveram oportunidade de
concluir seus estudos, mas que trazem consigo experiências de vida que devem
ser respeitadas e incorporadas ao processo de ensino.
Segundo Capra(2001) “a matemática é muito mais do que áridas fórmulas; que o
entendimento do padrão é de importância crucial para o entendimento do mundo
vivo que nos cerca” (Capra,2001), portanto, é preciso mostrar
que o conhecimento matemático, mais especificamente, a Geometria, é de fato
importante em nossas vidas e deve ser socializado. Levando em consideração os
conhecimentos que os alunos já possuem sobre o assunto, é tarefa do professor mostrar a esses educandos que o estudo dessa
ciência pode proporcionar ferramentas para resolução de problemas do seu dia a
dia, apontando a utilização e aplicação dos conceitos que estão conhecendo.
Pinto, 2005, em sua quinta
lição sobre educação de adultos responde a pergunta “Como lhe ensinar?... deve
ser tal que desperte no adulto a consciência da necessidade de instruir-se...
isso só pode ocorrer se simultaneamente e mais amplamente desperta nele a
consciência crítica de sua realidade total como ser humano, o faz compreender o
mundo onde vive seu país, sua região, desperta nele a noção clara de sua
participação na sociedade pelo trabalho que executa, dos direitos que possui e
dos deveres para com seus iguais”. É importante que o aluno cidadão de EJA
sinta que o que está aprendendo nada mais é que aquilo já tinha visto ou
utilizado em sua vida. Algo que lhe seja familiar. Cabe ao professor saber
encaixar seus conceitos no cotidiano desse aluno. Em se tratando de Geometria
podemos fazer essa aproximação, por exemplo, da arquitetura, astronomia, engenharia,
arte ou de ações simples do dia a dia, como encher uma jarra de suco, uma caixa
com terra, entre outros. Rogério Aparecido Vilas Boas, 2008, em sua Monografia
(Graduação em Matemática pelo Centro Universitário de Lavras, UNILAVRAS,
Lavras), trabalhou o campo de futebol para mostrar a área e o perímetro de
figuras planas como o retângulo, quadrado e circunferência e, através de
esquemas táticos usados por técnicos da seleção brasileira, pôde mostrar outras
figuras como triângulos, trapézios, entre outros, de acordo com cada diferente
formação dos jogadores em campo. Na Geometria Analítica, por exemplo, podemos
utilizar as estradas das rodovias mais conhecidas para trabalhar distância, segmento
de reta, paralelismo, perpendicularismo.
“A Geometria é um
ramo importante tanto como objeto de estudo, bem como instrumento para outras
áreas, além disso, como sugere Howard (1993, p.28) “as imagens geométricas
sugeridas frequentemente levam a resultados e estudos adicionais, dotando-nos
de um instrumento poderoso de raciocínio indutivo e criativo”. (Novaki, 2009)
Outro fator importante é não
deixar que o aluno veja a matemática como uma ciência isolada, que não possa
ter ligação com outras áreas. Dependendo de como a abordagem é feita em
determinado assunto, podemos interdisciplinar e mostrar as ciências de uma
forma geral, sem precisar estudá-las de forma separada. No exemplo acima, foi
mencionado o estudo de paralelismo e perpendicularismo em certas rodovias. O
professor pode aproveitar para mostrar o conteúdo geográfico da estrada que
está sendo trabalhada, onde se localiza, qual a vegetação, clima, etc. No caso
do campo de futebol, pode debater sobre os países onde a seleção brasileira
jogou, sua história, cultura, ou ainda se estiver trabalhando com volumes, pode
contextualizar a questão dos elementos que estão sendo medidos, de onde eles
vem, qual a importância deles para o planeta, como por exemplo, a água ou a
terra. Novaki afirma que “o ensino da Geometria é uma ferramenta que
possibilita aos alunos o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas
práticos do cotidiano, como, por exemplo, orientar-se no espaço, ler mapas,
estimar e comparar distâncias percorridas, reconhecer propriedades de formas
geométricas básicas, saber usar diferentes unidades de medida. E como a
Geometria é rica em elementos que favorecem a percepção espacial e a
visualização, torna-se uma ferramenta importante também para outras
disciplinas”.
Além disso, outra questão
relevante no ensino da matemática é o uso de tecnologias que contribuam para o
aprendizado dos alunos. Segundo Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida,
coordenadora e docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), a tecnologia não é um enfeite e o professor
precisa compreender em quais situações ela efetivamente ajuda no aprendizado
dos alunos. “Sempre perguntamos aos que usam a tecnologia em alguma atividade:
qual foi a contribuição? O que não poderia ser feito sem a tecnologia? Se ele
não consegue identificar claramente, significa que não houve um ganho efetivo”,
explica.
É preciso que o uso da
tecnologia traga contribuições significativas para o ensino. De nada adianta a
escola ter um laboratório de informática de última geração e não saber como
utilizá-lo. No caso da Geometria, existem ferramentas tecnológicas que podem
servir de auxílio para que seja feita uma educação de qualidade. E, em se
tratando de EJA, podemos ainda tornar o uso da tecnologia, juntamente com a
interdisciplinaridade, pesquisa e considerando a realidade do aluno, uma
ferramenta para a formação de sujeitos atualizados e em constante investigação.
Temos inúmeros softwares que podem colaborar para o ensino de Geometria como
Geogebra, o qual oferece melhor visualização das figuras, segmentos ou
projeções, utilizado para esboçar retas, circunferências e outros conceitos da
geometria plana, ou ainda, o Construfig 3D, software que é capaz de montar
figuras geométricas espaciais, auxiliando no estudo de prismas, cilindros,
pirâmides, entre outras figuras, possibilitando ainda a visualização de
vértices, arestas e faces.
No entanto, para que todas essas idéias sejam colocadas
em prática é imprescindível que o professor, ainda em formação ou na sua
formação continuada, possa ter acesso a novas práticas pedagógicas
significativas para o seu aprendizado e de seus alunos. E apesar da Geometria
ser de fácil manuseio e possuir inúmeras ferramentas para o ensino, segundo
Novaki, os cursos de formação inicial de professores, cursos de magistério e de
licenciatura, continuam não dando conta de discutir suficientemente com seus
alunos uma proposta mais eficiente para o ensino de Geometria, e, também as
modalidades de formação continuada, postas em ação nos últimos anos,
basicamente na forma de cursos de reciclagem, não têm atingido ainda, o
objetivo de mudar a prática na sala de aula em relação a essa disciplina.
Como já foi falado, o professor de EJA
precisa levar em consideração o interesse dos alunos pela Geometria e mostrar
que ela pode auxiliar no seu cotidiano. Segundo o Conselho Nacional de Educação
(CNE) ,
a maior parte desses jovens e adultos,
até mesmo pelo seu passado e presente, move-se para a escola com forte
motivação, buscam dar uma significação social para as competências, articulando
conhecimentos, habilidades e valores. Muitos destes jovens e adultos se
encontram, por vezes, em faixas etárias próximas às dos docentes. Por isso, os
docentes deverão se preparar e se qualificar para a constituição de projetos
pedagógicos que considerem modelos apropriados a essas características e
expectativas.
Portanto, o compromisso de um
ensino diferenciado, que trabalhe a interdisciplinaridade, a vivência dos
alunos, a visão de mundo, a cultura e que saiba usar a tecnologia a seu favor,
é tarefa não só do professor, mas também da Universidade, enquanto instituição
formadora, e da escola, que deve cobrar e incentivar seus docentes a se
aperfeiçoarem para uma melhor educação não só em EJA, mas também para todas as
modalidades de ensino.
“As funções básicas das instituições formadoras, em
especial das universidades, deverão associar a pesquisa à docência de modo a
trazer novos elementos e enriquecer os conhecimentos e o ato educativo. Uma
metodologia que se baseie na e se exerça pela investigação só pode auxiliar na
formação teórico-prática dos professores em vista de um ensino mais rico e
empático”. (Conselho Nacional de Educação, 2000).
É preciso dar
atenção a esse processo, que deve começar na Universidade, com a preocupação e inquietação
do professor que forma professor. O aluno em processo de formação precisa ter clareza
de como proporcionar uma aula que inclua todos os subsídios já mencionados e
voltados para a modalidade de Jovens e Adultos. Além disso, o futuro professor
também tem a obrigação de buscar novos conhecimentos e práticas que favoreçam
sua forma de educar. Ele deve procurar a pesquisa e a investigação para
encontrar respostas às questões que o inquietam. Dessa forma, esse educador matemático
saberá como conduzir a Geometria ou qualquer outro assunto, de forma
globalizada, mostrando seu lugar no mundo, para que serve e como pode ser útil.
BIBLIOGRAFIA
CAPRA, Fritjof. A
teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6.ed. São
Paulo: Cultrix, 2001.
GIL, Antonio Carlos. Didática do Ensino Superior.1ed.São
Paulo:Atlas, 2008
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed.34, 1999.
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos.
São Paulo: Cortez, 2005.
NOVA
ESCOLA. Ano XXV. N°233. Junho/julho 2010
CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO – CNE
Parecer CEB
11/00 – Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
Jovens e Adultos.
SITES CONSULTADOS:
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