quarta-feira, 25 de abril de 2012

O ENSINO DE GEOMETRIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS-EJA-


Nos dias de hoje fala-se em um ensino diferenciado, que possa ser significativo tanto para os professores, quanto para os alunos. Em Matemática, mais precisamente em Geometria, a maioria dos professores tem dificuldades em educar com essa nova prática e, tratando-se da Educação de Jovens e Adultos (EJA), é necessário que o professor seja capacitado para trabalhar com essa modalidade de ensino, levando em conta também a vivência desses alunos.
Segundo Nilton Luís Novaki, professor de matemática da rede pública do Estado do Paraná, a Geometria é um ramo importante da Matemática como objeto de estudo e instrumento para outras áreas. Ela oferece ótimos exemplos de aplicabilidade na vida cotidiana dos nossos alunos, tanto do regular como da EJA que trazem seus saberes e experiências de vida para sala de aula.
A Geometria é uma parte da Matemática que se divide em Geometria Plana, onde são apresentadas figuras planas como quadrado, retângulo, triângulo, etc., Geometria Analítica onde se estuda o comportamento de curvas, através da análise de equações, como reta, ponto e circunferência, e por fim, a Geometria Espacial, onde então conhecemos as figuras geométricas no espaço tais como, poliedros (paralelepípedos, pirâmides, cubos) e corpos redondos (esfera, cone, cilindro). Apesar de todas as subdivisões que a Geometria possa ter e nomes que muitas vezes assustam a maioria dos alunos, essa área possibilita a utilização de muitas práticas pedagógicas diferenciadas. Existem inúmeros materiais concretos e softwares que podem contribuir para esse ensino, no entanto, é preciso que haja o interesse por parte dos professores em buscar essa alternativa. Podemos considerar ainda, juntamente a essas práticas, a interdisciplinaridade e a vivência dos educandos.
 "Se as pessoas aprendem com suas atividades sociais e profissionais, se a escola e a universidade perdem progressivamente o monopólio da criação e transmissão do conhecimento, os sistemas públicos de educação podem ao menos tomar para si a nova missão de orientar os percursos individuais no saber e de contribuir para o reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes às pessoas, aí incluídos os saberes não-acadêmicos" (Lévy, 1999).

Em se tratando de Educação de Jovens e Adultos é preciso considerar que esses alunos são em sua maioria, trabalhadores, pais e/ou mães de família, que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos, mas que trazem consigo experiências de vida que devem ser respeitadas e incorporadas ao processo de ensino.
 Segundo Capra(2001) “a matemática é muito mais do que áridas fórmulas; que o entendimento do padrão é de importância crucial para o entendimento do mundo vivo que nos cerca” (Capra,2001), portanto, é preciso mostrar que o conhecimento matemático, mais especificamente, a Geometria, é de fato importante em nossas vidas e deve ser socializado. Levando em consideração os conhecimentos que os alunos já possuem sobre o assunto, é tarefa do professor  mostrar a esses educandos que o estudo dessa ciência pode proporcionar ferramentas para resolução de problemas do seu dia a dia, apontando a utilização e aplicação dos conceitos que estão conhecendo.
Pinto, 2005, em sua quinta lição sobre educação de adultos responde a pergunta “Como lhe ensinar?... deve ser tal que desperte no adulto a consciência da necessidade de instruir-se... isso só pode ocorrer se simultaneamente e mais amplamente desperta nele a consciência crítica de sua realidade total como ser humano, o faz compreender o mundo onde vive seu país, sua região, desperta nele a noção clara de sua participação na sociedade pelo trabalho que executa, dos direitos que possui e dos deveres para com seus iguais”. É importante que o aluno cidadão de EJA sinta que o que está aprendendo nada mais é que aquilo já tinha visto ou utilizado em sua vida. Algo que lhe seja familiar. Cabe ao professor saber encaixar seus conceitos no cotidiano desse aluno. Em se tratando de Geometria podemos fazer essa aproximação, por exemplo, da arquitetura, astronomia, engenharia, arte ou de ações simples do dia a dia, como encher uma jarra de suco, uma caixa com terra, entre outros. Rogério Aparecido Vilas Boas, 2008, em sua Monografia (Graduação em Matemática pelo Centro Universitário de Lavras, UNILAVRAS, Lavras), trabalhou o campo de futebol para mostrar a área e o perímetro de figuras planas como o retângulo, quadrado e circunferência e, através de esquemas táticos usados por técnicos da seleção brasileira, pôde mostrar outras figuras como triângulos, trapézios, entre outros, de acordo com cada diferente formação dos jogadores em campo. Na Geometria Analítica, por exemplo, podemos utilizar as estradas das rodovias mais conhecidas para trabalhar distância, segmento de reta, paralelismo, perpendicularismo. 

“A Geometria é um ramo importante tanto como objeto de estudo, bem como instrumento para outras áreas, além disso, como sugere Howard (1993, p.28) “as imagens geométricas sugeridas frequentemente levam a resultados e estudos adicionais, dotando-nos de um instrumento poderoso de raciocínio indutivo e criativo”. (Novaki, 2009)

Outro fator importante é não deixar que o aluno veja a matemática como uma ciência isolada, que não possa ter ligação com outras áreas. Dependendo de como a abordagem é feita em determinado assunto, podemos interdisciplinar e mostrar as ciências de uma forma geral, sem precisar estudá-las de forma separada. No exemplo acima, foi mencionado o estudo de paralelismo e perpendicularismo em certas rodovias. O professor pode aproveitar para mostrar o conteúdo geográfico da estrada que está sendo trabalhada, onde se localiza, qual a vegetação, clima, etc. No caso do campo de futebol, pode debater sobre os países onde a seleção brasileira jogou, sua história, cultura, ou ainda se estiver trabalhando com volumes, pode contextualizar a questão dos elementos que estão sendo medidos, de onde eles vem, qual a importância deles para o planeta, como por exemplo, a água ou a terra. Novaki afirma que “o ensino da Geometria é uma ferramenta que possibilita aos alunos o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas práticos do cotidiano, como, por exemplo, orientar-se no espaço, ler mapas, estimar e comparar distâncias percorridas, reconhecer propriedades de formas geométricas básicas, saber usar diferentes unidades de medida. E como a Geometria é rica em elementos que favorecem a percepção espacial e a visualização, torna-se uma ferramenta importante também para outras disciplinas”.
Além disso, outra questão relevante no ensino da matemática é o uso de tecnologias que contribuam para o aprendizado dos alunos. Segundo Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, coordenadora e docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a tecnologia não é um enfeite e o professor precisa compreender em quais situações ela efetivamente ajuda no aprendizado dos alunos. “Sempre perguntamos aos que usam a tecnologia em alguma atividade: qual foi a contribuição? O que não poderia ser feito sem a tecnologia? Se ele não consegue identificar claramente, significa que não houve um ganho efetivo”, explica.
É preciso que o uso da tecnologia traga contribuições significativas para o ensino. De nada adianta a escola ter um laboratório de informática de última geração e não saber como utilizá-lo. No caso da Geometria, existem ferramentas tecnológicas que podem servir de auxílio para que seja feita uma educação de qualidade. E, em se tratando de EJA, podemos ainda tornar o uso da tecnologia, juntamente com a interdisciplinaridade, pesquisa e considerando a realidade do aluno, uma ferramenta para a formação de sujeitos atualizados e em constante investigação. Temos inúmeros softwares que podem colaborar para o ensino de Geometria como Geogebra, o qual oferece melhor visualização das figuras, segmentos ou projeções, utilizado para esboçar retas, circunferências e outros conceitos da geometria plana, ou ainda, o Construfig 3D, software que é capaz de montar figuras geométricas espaciais, auxiliando no estudo de prismas, cilindros, pirâmides, entre outras figuras, possibilitando ainda a visualização de vértices, arestas e faces.
No entanto, para que todas essas idéias sejam colocadas em prática é imprescindível que o professor, ainda em formação ou na sua formação continuada, possa ter acesso a novas práticas pedagógicas significativas para o seu aprendizado e de seus alunos. E apesar da Geometria ser de fácil manuseio e possuir inúmeras ferramentas para o ensino, segundo Novaki, os cursos de formação inicial de professores, cursos de magistério e de licenciatura, continuam não dando conta de discutir suficientemente com seus alunos uma proposta mais eficiente para o ensino de Geometria, e, também as modalidades de formação continuada, postas em ação nos últimos anos, basicamente na forma de cursos de reciclagem, não têm atingido ainda, o objetivo de mudar a prática na sala de aula em relação a essa disciplina.
Como já foi falado, o professor de EJA precisa levar em consideração o interesse dos alunos pela Geometria e mostrar que ela pode auxiliar no seu cotidiano. Segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE) , a maior parte desses jovens e adultos, até mesmo pelo seu passado e presente, move-se para a escola com forte motivação, buscam dar uma significação social para as competências, articulando conhecimentos, habilidades e valores. Muitos destes jovens e adultos se encontram, por vezes, em faixas etárias próximas às dos docentes. Por isso, os docentes deverão se preparar e se qualificar para a constituição de projetos pedagógicos que considerem modelos apropriados a essas características e expectativas.
Portanto, o compromisso de um ensino diferenciado, que trabalhe a interdisciplinaridade, a vivência dos alunos, a visão de mundo, a cultura e que saiba usar a tecnologia a seu favor, é tarefa não só do professor, mas também da Universidade, enquanto instituição formadora, e da escola, que deve cobrar e incentivar seus docentes a se aperfeiçoarem para uma melhor educação não só em EJA, mas também para todas as modalidades de ensino.

“As funções básicas das instituições formadoras, em especial das universidades, deverão associar a pesquisa à docência de modo a trazer novos elementos e enriquecer os conhecimentos e o ato educativo. Uma metodologia que se baseie na e se exerça pela investigação só pode auxiliar na formação teórico-prática dos professores em vista de um ensino mais rico e empático”. (Conselho Nacional de Educação, 2000).

É preciso dar atenção a esse processo, que deve começar na Universidade, com a preocupação e inquietação do professor que forma professor. O aluno em processo de formação precisa ter clareza de como proporcionar uma aula que inclua todos os subsídios já mencionados e voltados para a modalidade de Jovens e Adultos. Além disso, o futuro professor também tem a obrigação de buscar novos conhecimentos e práticas que favoreçam sua forma de educar. Ele deve procurar a pesquisa e a investigação para encontrar respostas às questões que o inquietam. Dessa forma, esse educador matemático saberá como conduzir a Geometria ou qualquer outro assunto, de forma globalizada, mostrando seu lugar no mundo, para que serve e como pode ser útil.

 BIBLIOGRAFIA

CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 6.ed. São Paulo: Cultrix, 2001.

GIL, Antonio Carlos. Didática do Ensino Superior.1ed.São Paulo:Atlas, 2008

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed.34, 1999.

PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo: Cortez, 2005.

NOVA ESCOLA. Ano XXV. N°233. Junho/julho 2010

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – CNE
Parecer CEB 11/00 – Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.

SITES CONSULTADOS:




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